09 de maio de 2025
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VIDEO: Não se engane com a cor da chita”: fala na tribuna de presidente da Câmara De Nova Ubiratã causa revolta e pode virar caso no MP

Fala de Leonildo Antônio deve ser denunciada ao Ministério Público por possível crime de racismo
OPINIÃO
terça, 6 de maio de 2025

“Não se engane com a cor da chita.” A frase foi dita pelo presidente da Câmara Municipal, Leonildo Antônio (PP), conhecido como Nana Despachante, durante sessão plenária realizada ontem (05/05), em meio à defesa do trâmite de um projeto de fomento que havia recebido pedido de vista. A fala aconteceu logo após uma votação que contou com cinco votos favoráveis à vista — incluindo os vereadores Fábio Cavalcante (Boby), Chicão do Novo Horizonte, Gorete Felipe, Jozias da Fonseca e o autor do pedido, Rogério Ribeiro. Entre esses votos, dois vieram de parlamentares negros e dois de parlamentares pardos.


Antes de usar a expressão, o presidente criticou o prolongamento da discussão com termos como “vamos parar de encher linguiça” e afirmou que o projeto já estava protocolado desde 30 de abril. Em seguida, completou: “Então, não se enganem com a cor da chita.” Para muitos presentes, o uso do ditado — no contexto de uma fala ríspida e defensiva — foi interpretado como uma indireta aos vereadores que votaram a favor do pedido de vista, sugerindo desconfiança em relação às intenções ou à aparência dos mesmos.


Logo em seguida, Leonildo também insinuou que o pedido de vista poderia estar relacionado ao fato de o projeto conter R$ 20 mil de sua verba impositiva, e não por preocupação com transparência, como alegaram os parlamentares.


Fábio Cavalcante (Boby) e Chicão, ambos nordestinos com forte ligação com o público humilde, usaram a tribuna para justificar a necessidade de mais informações antes da aprovação. A resposta do presidente, com uso da expressão popular e tom de acusação velada, causou desconforto imediato entre os presentes.


Uma mulher negra que acompanhava a sessão procurou o site ImpactoMT para relatar como recebeu a declaração:


“Na hora que ele falou, parecia até que era só um ditado. Mas pra quem é preta, que cresceu ouvindo que a gente engana, que a nossa cor assusta, aquilo foi um soco no peito. E o pior é que ele falou como se fosse a coisa mais normal do mundo.”


Ela também relembrou outro episódio:


“Já teve aquela vez que ele disse que ‘nego leva pau da polícia’. E agora isso. Ele repete esse tipo de fala como se nada fosse.”


De fato, esta não é a primeira vez que Leonildo Antônio é envolvido em polêmicas por declarações com conotação racial. A fala anterior, mencionando que “nego leva pau da polícia”, foi amplamente criticada por reforçar estereótipos violentos e racismo institucional.


ASSISTA AQUI.


A expressão “não se enganem com a cor da chita” pode carregar duplo significado. De um lado, pode ser vista como referência ao tecido chita, popular, simples e historicamente ligado à população pobre. De outro, remete também à figura da macaca Chita, que acompanhava o personagem Tarzan — o que remonta a episódios de animalização simbólica de pessoas negras, um mecanismo racista amplamente repudiado.


Um caso semelhante aconteceu em março de 2025, quando o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, afirmou que uma Libertadores sem clubes brasileiros seria como “Tarzan sem a Chita”. A declaração teve grande repercussão negativa, sendo considerada racista por autoridades brasileiras e por setores da imprensa internacional. Domínguez foi obrigado a se retratar.


Racismo é crime no Brasil, previsto na Lei 7.716/1989, com pena de reclusão, multa e perda de mandato quando praticado por agente público. Diante do histórico de declarações e do contexto em que a nova fala foi proferida, moradores, lideranças e movimentos sociais já cogitam protocolar denúncia ao Ministério Público, pedindo apuração por crime de racismo e quebra de decoro parlamentar.


Quando uma autoridade pública utiliza expressões de duplo sentido com histórico ofensivo — mesmo sob a alegação de serem populares —, ela reforça preconceitos sociais e raciais. E ao fazer isso no plenário de uma Câmara Municipal, diante de vereadores humildes e eleitos por populações historicamente marginalizadas, o impacto se torna ainda mais grave.


A sociedade espera que o caso não seja ignorado. Que não haja silêncio. Porque quando o preconceito é naturalizado por quem tem microfone e poder, cala-se também a voz de quem há muito tempo luta para ser ouvido.


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TEXTO: DA REDAÇÃO
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